Em algum momento, alguém provavelmente te disse:
“Se você já fez uma cesárea, vai ter que repetir.”
E isso pode ter doído. Não só pela forma, mas pelo peso. Pela ideia de que algo te foi retirado: o direito de escolher, de tentar, de viver o nascimento como você sonha.
O que talvez não te contaram — ou esconderam entre cifras e estatísticas — é que o parto normal após cesárea é possível, sim. E mais do que isso: pode ser seguro, transformador e profundamente curativo, quando acompanhado com respeito, evidência e cuidado.
Se você chegou até aqui buscando informações sobre o que a medicina chama de VBAC (Vaginal Birth After Cesarean), e o que nós chamamos de possibilidade viva de renascer junto ao seu bebê, saiba que esta conversa é pra você. E será com escuta e verdade.
Por que tantas mulheres desejam um parto normal após cesárea?
A decisão de buscar um parto normal após uma cesárea raramente nasce apenas da teoria médica ou da estatística. Ela emerge, quase sempre, de um lugar interno — íntimo, emocional e profundamente humano. É um movimento que envolve memória, significado e uma tentativa genuína de reconectar o corpo à experiência de dar à luz de forma consciente, ativa e respeitosa.
Muitas mulheres que buscam o VBAC carregam histórias que não foram apenas cirúrgicas. Foram histórias interrompidas. Por isso, suas motivações são vastas, complexas e legítimas. E não se trata de querer “provar algo”. Trata-se, acima de tudo, de recuperar a soberania sobre o próprio parto.
1. Reparar uma experiência anterior marcada pela ausência de protagonismo
Em muitos relatos, o parto cesáreo anterior não foi exatamente uma escolha. Foi um desfecho apressado, pouco explicado, mediado por protocolos rígidos ou pressões institucionais.
Mulheres relatam que:
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Foram encaminhadas para a cirurgia sem terem dilatação suficientemente avaliada;
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Receberam diagnósticos vagos, como “bacia estreita” ou “bebê grande demais”;
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Ouviram frases como “não temos tempo para esperar”;
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Foram induzidas a decisões em momentos de dor, exaustão e vulnerabilidade.
Para essas mulheres, buscar o parto vaginal é, muitas vezes, uma tentativa de viver um novo início — com presença, escolha e escuta.
2. Desejo profundo de se conectar com o nascimento como um processo fisiológico e simbólico
O parto, além de fisiológico, é simbólico. Ele marca o nascimento do bebê, mas também o renascimento da mulher em sua potência ancestral. Muitas mães, ao refletirem sobre o nascimento anterior, sentem que não participaram desse momento como protagonistas.
A escolha por um parto humanizado após cesárea surge, então, como um caminho para:
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Sentir o próprio corpo em movimento;
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Confiar na sua capacidade de parir;
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Ser respeitada em suas decisões e sensações;
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Vivenciar o nascimento como um rito pessoal e coletivo de passagem.
3. Cicatrizar o que ficou aberto: emocionalmente e corporalmente
Embora a incisão da cesárea feche fisicamente em semanas, muitas mulheres relatam uma cicatriz emocional que permanece — e que, em alguns casos, se amplia na maternidade.
O desejo pelo VBAC, nesses casos, não é sobre rejeitar a cesárea. É sobre curar a forma como ela aconteceu, ou sobre o que ela impediu: a presença, o toque imediato, o primeiro colo, a autonomia.
Esse parto seguinte não é apenas sobre um novo bebê. Ele é, também, sobre reconstruir uma parte de si mesma.
4. Busca por uma recuperação mais rápida e integral
Do ponto de vista clínico, o parto vaginal costuma proporcionar uma recuperação mais breve e menos dolorosa, com menos riscos de infecção, menos tempo de internação e mais liberdade para iniciar o cuidado com o bebê de forma plena.
Além da recuperação física, muitas mulheres relatam que o VBAC proporcionou uma recuperação emocional mais leve e positiva, sobretudo quando tiveram liberdade de parir no seu tempo, com acolhimento e segurança.
5. Desejo de experimentar o nascimento com autonomia, dignidade e respeito
Por fim, há um desejo legítimo e universal: ser tratada com dignidade.
Mulheres que buscam o VBAC não estão em busca de um parto perfeito, mas de um parto onde possam:
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Fazer perguntas e receber respostas honestas;
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Ter suas vontades escutadas com empatia;
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Ser acompanhadas por profissionais que respeitem o tempo e os limites do corpo;
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Sentir que fazem parte ativa da experiência — e não apenas obedecer ordens ou protocolos.
Elas querem olhar para esse novo parto e dizer:
“Dessa vez, eu estive lá. Eu fui ouvida. Eu fui respeitada.”
É seguro ter um parto normal após uma cesárea?
Essa pergunta ecoa no consultório, nos grupos de gestantes, nas conversas com amigas, nas madrugadas silenciosas de quem carrega uma história anterior marcada por bisturi e anestesia.
E é compreensível.
Porque o medo, muitas vezes, nasce do silêncio — ou de vozes que informam pouco e assustam muito.
Mas sim, o parto normal após cesárea pode ser seguro. E mais do que isso: pode ser profundamente transformador.
A segurança, nesse caso, não se mede apenas por estatísticas clínicas, mas também pela forma como o processo é conduzido: com escuta, ciência, responsabilidade e, sobretudo, respeito.
O que dizem as evidências sobre segurança no VBAC?
Tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) reconhecem que o VBAC (Vaginal Birth After Cesarean) é uma alternativa segura para a maioria das mulheres que já passaram por uma cesárea — desde que avaliadas criteriosamente.
Os números não mentem:
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O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas afirma que o VBAC pode ser uma alternativa segura em até 80% dos casos.;
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A taxa de complicações graves, como ruptura uterina, permanece baixa (cerca de 0,5% a 1%, em estudos populacionais);
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Quando comparado à realização de múltiplas cesáreas, o VBAC pode reduzir significativamente riscos como placenta prévia, acretismo placentário, hemorragias severas e lesões cirúrgicas em futuros partos.
- A Organização Mundial da Saúde recomenda a redução de cesáreas desnecessárias e reforça a importância do parto vaginal sempre que possível
Ou seja, em muitos casos, o maior risco pode ser justamente não tentar.
A segurança está nos detalhes — e na equipe que te acompanha
Ao contrário da narrativa que muitas vezes é disseminada, o parto vaginal após cesárea não é uma aposta. É uma decisão clínica e emocional que depende de múltiplos fatores. O segredo está em avaliar cuidadosamente cada história gestacional e estruturar um plano de cuidado personalizado.
Esses são alguns elementos que aumentam a segurança do VBAC:
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Tipo da cesárea anterior:
Quando a incisão no útero foi transversa baixa (a mais comum e segura), o risco de ruptura uterina diminui consideravelmente. -
Intervalo entre os partos:
Um espaço mínimo de 18 a 24 meses entre uma cesárea e a nova gestação permite melhor cicatrização uterina e menor risco de complicações. -
Condições da gestação atual:
Gestações únicas, com bebês em posição cefálica, líquido amniótico adequado e sem intercorrências clínicas são ótimas candidatas. -
Histórico de saúde da mulher:
Avaliar hipertensão, diabetes gestacional ou outras comorbidades ajuda na tomada de decisões mais seguras. -
Equipe humanizada e preparada:
A presença de uma equipe com formação atualizada e postura ética é essencial. Profissionais que compreendam os limites fisiológicos do corpo feminino, saibam monitorar sinais de alerta e respeitem a fisiologia sem intervir desnecessariamente aumentam significativamente a segurança do processo.
A humanização é parte da segurança — e não o oposto
Muitas vezes, ao buscar um parto humanizado após cesárea, a mulher se depara com discursos que colocam “humanização” como o oposto de “segurança”. Mas isso não passa de um equívoco — e perigoso.
Humanizar o parto não é negligenciar critérios técnicos. É, justamente, aplicá-los de forma ética, respeitosa e baseada em evidência. É permitir que a mulher participe da decisão, entenda o que está sendo feito, tenha liberdade de escolha — e não apenas seja conduzida por convenções hospitalares.
Uma equipe que pratica o VBAC humanizado entende que cada parto é único. Que não se trata de seguir uma cartilha, mas de caminhar lado a lado com a gestante, ajustando os planos conforme o corpo, o bebê e o contexto evoluem.
Segurança não é ausência de risco — é presença de consciência
Não existe parto isento de risco — nem vaginal, nem cesáreo. O que existe é cuidado consciente, informação clara, decisões compartilhadas.
No VBAC, os riscos são monitoráveis, mensuráveis e, na grande maioria dos casos, evitáveis.
E os benefícios — físicos, emocionais e simbólicos — podem ser imensos:
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Menor tempo de internação;
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Risco reduzido de infecções;
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Aleitamento materno mais precoce e eficaz;
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Recuperação corporal mais rápida;
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Redução das chances de complicações em futuras gestações;
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E o mais importante: o fortalecimento do vínculo da mulher com seu próprio corpo e sua experiência de nascimento.
Confiar no corpo também é parte da segurança
A segurança do parto humanizado após cesárea não é construída apenas com exames, protocolos e hospitais. Ela também se fortalece quando a mulher recupera a confiança de que seu corpo sabe parir — mesmo depois de uma cesárea.
É nesse ponto que a humanização e a medicina baseada em evidência se encontram. Não se trata de um ou outro. Trata-se de integrar tecnologia, ciência e escuta para que a mulher esteja amparada por todos os lados.
E quais são os riscos reais de um VBAC?
Falar de parto com responsabilidade também é falar de riscos — com verdade, não com medo.
O principal risco associado ao parto após cesárea é a ruptura uterina, que ocorre quando a cicatriz da cirurgia anterior se rompe durante o trabalho de parto. No entanto, esse risco é baixo: em partos com boas condições clínicas, ele gira em torno de 0,5% a 0,9%, segundo dados do ACOG.
Outros fatores, como uso inadequado de ocitocina sintética, intervenções desnecessárias ou ausência de monitoramento contínuo, podem elevar esse risco. É por isso que a escolha da equipe e do local de parto é tão determinante.
Parto normal após cesárea e parto humanizado: existe diferença?
Sim, e compreender essa diferença é fundamental para que a sua escolha seja consciente, segura e verdadeiramente sua.
À primeira vista, pode parecer que “parto normal” e “parto humanizado” sejam sinônimos, ou que bastaria “evitar a cesárea” para garantir uma experiência positiva. Mas a realidade é mais complexa — e mais rica.
O parto normal após uma cesárea, tecnicamente chamado de VBAC (Vaginal Birth After Cesarean), diz respeito à via de nascimento: a passagem do bebê pelo canal vaginal. Já o parto humanizado é uma abordagem que ultrapassa a biologia. Ele é uma filosofia de cuidado que coloca a mulher no centro da própria experiência de parir.
Parto humanizado não é uma técnica. É um compromisso com o respeito.
No parto humanizado, o foco não está apenas em “evitar uma cirurgia”, mas em garantir que cada decisão seja tomada com base em evidências, empatia e autonomia.
O cuidado humanizado se constrói em vários níveis:
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Respeito ao protagonismo da mulher, em todas as etapas da gestação e parto;
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Atenção ao tempo fisiológico do corpo, sem induções desnecessárias, relógios ou pressas institucionais;
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Escuta ativa dos medos, histórias, crenças e desejos da gestante;
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Redução consciente de intervenções, aplicadas apenas quando necessárias — e nunca por protocolo automático;
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Presença constante de apoio afetivo, como doulas, acompanhantes escolhidos e profissionais que sabem estar, não apenas fazer.
Nem todo parto vaginal é humanizado. Há partos que, mesmo sem cesárea, são marcados por violência obstétrica, imposição de condutas, separação do bebê, ausência de diálogo.
E, ao contrário, há cesáreas humanizadas, realizadas com respeito, consentimento, ambiente acolhedor e presença ativa da mulher.
Por isso, o foco não deve ser apenas “qual tipo de parto”, mas “como esse parto será conduzido e por quem”.
—> No Brasil, o Ministério da Saúde incentiva a humanização do parto e o protagonismo feminino durante a gestação e nascimento.
E existe um perfil ideal para tentar o parto humanizado após cesárea?
Essa pergunta é legítima — e complexa.
A resposta mais técnica é: existem critérios clínicos que orientam a tentativa de um parto vaginal após uma cesárea.
Mas a resposta mais humana é: cada mulher merece ser avaliada de forma única, integral e sem julgamentos.
É comum que, ao buscar o VBAC, a mulher se depare com obstáculos institucionais, discursos desatualizados ou posturas enviesadas. Nem todos os profissionais estão dispostos a considerar essa via com a profundidade e a escuta que ela merece.
Ainda assim, alguns fatores aumentam, sim, a segurança e a viabilidade do parto vaginal após cesárea:
🟣 Fatores clínicos que favorecem o VBAC humanizado
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✅ Apenas uma cesárea anterior
Embora existam relatos e estudos sobre VBAC após duas cesáreas (VBAC2), a recomendação mais aceita considera que mulheres com uma única cesárea anterior apresentam menores riscos. -
✅ Tipo de incisão uterina anterior: transversa baixa
Essa incisão é a mais comum e oferece menor risco de ruptura uterina em comparação com incisões verticais ou clássicas. -
✅ Gestação atual de baixo risco
Sem comorbidades como pré-eclâmpsia, diabetes descompensada, restrição de crescimento fetal ou placenta prévia. -
✅ Intervalo entre os partos de pelo menos 18 a 24 meses
Esse intervalo permite que a cicatriz uterina se regenere de forma adequada, reduzindo significativamente riscos. -
✅ Bebê em apresentação cefálica
A posição ideal para o nascimento vaginal é com a cabeça para baixo. Apresentações pélvicas ou transversais requerem avaliação mais cautelosa. -
✅ Mãe saudável, com avaliação psicológica e emocional positiva
Isso inclui preparo emocional, compreensão dos riscos e benefícios, rede de apoio e envolvimento ativo no plano de parto.
Mas cuidado: nem sempre a negativa é baseada em evidência
Infelizmente, muitos profissionais ainda recusam o VBAC mesmo quando os critérios clínicos são favoráveis. Isso não é, necessariamente, uma escolha baseada em risco técnico. Pode ser:
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Medo jurídico do médico (por ausência de respaldo institucional);
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Desconhecimento científico atualizado;
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Cultura hospitalar centrada na cesárea como via mais “controlável”;
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Fatores logísticos e financeiros que influenciam decisões obstétricas.
É por isso que buscar uma segunda opinião — e até uma terceira — é um gesto de cuidado consigo mesma.
Não aceite uma resposta negativa sem questionar, investigar e entender de onde ela vem.
Humanizar é individualizar
Nenhum protocolo substitui o olhar atento, a escuta verdadeira e o compromisso com o bem-estar da mulher.
O parto normal após uma cesárea não é uma fórmula pronta. É uma construção feita em parceria entre a gestante, a equipe e o tempo do corpo.
Se você sente que esse caminho ressoa com você, saiba: ele é possível. E você tem o direito de trilhá-lo com apoio, clareza e segurança.
Como me preparar para um VBAC bem-sucedido?
O corpo da mulher sabe parir.
Mas, depois de uma cesárea, esse saber pode parecer adormecido, silenciado ou até desacreditado — não só pelos outros, mas, às vezes, por ela mesma.
O preparo para um parto normal após cesárea começa muito antes do início das contrações. Ele começa na mente, no coração, no reconhecimento da própria história — e na reconstrução da confiança.
Parir novamente depois de uma cirurgia anterior é, para muitas mulheres, um caminho de ressignificação. E, como todo caminho, pede preparação cuidadosa.
1. Cura emocional: a base de tudo
Muitas mulheres que passaram por cesáreas anteriores carregam feridas que não aparecem no ultrassom. São feridas de silenciamento, de medo, de frustração, de expectativas rompidas.
Antes de pensar em fisiologia, é essencial olhar para essas marcas com honestidade e acolhimento.
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Participe de grupos de apoio com outras mulheres que passaram por VBACs
Ouvir histórias reais de superação, acertos, dúvidas e aprendizados ajuda a quebrar o isolamento e a cultivar esperança concreta. -
Busque suporte psicológico especializado em gestação e parto
Uma psicóloga perinatal ou terapeuta corporal pode auxiliar na reconstrução da confiança, no acolhimento de traumas e na preparação emocional para um novo parto. -
Converse com uma doula experiente e disponível para escutar
A doula não é apenas uma presença técnica. Ela é presença afetiva, que acompanha, acolhe, educa e fortalece. -
Escreva sobre sua experiência anterior
Muitas mulheres descobrem, ao escrever sobre sua cesárea anterior, dores que ainda estavam sem nome. Nomear é o primeiro passo para transformar. -
Estude com moderação, mas estude com profundidade
Nem tudo o que se lê na internet é evidência. Escolha fontes seguras. Respeite seus limites. Estudar pode empoderar — mas também pode assustar, se feito sem apoio.
A cura emocional não é a ausência de medo. É a capacidade de agir com consciência mesmo com ele presente.
2. Fortalecimento físico: o corpo como aliado
O corpo que foi cortado precisa ser reintegrado — e isso não é apenas sobre músculos, mas sobre percepção.
Preparar o corpo para o parto normal após uma cesárea é reencontrar funcionalidade, força e confiança na sua fisiologia.
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Pratique atividades físicas que envolvam o assoalho pélvico
Pilates, yoga gestacional, hidroterapia e dança são aliados poderosos para mobilidade pélvica, respiração consciente e consciência corporal. -
Busque avaliação fisioterapêutica especializada
Uma fisioterapeuta pélvica pode avaliar a cicatriz da cesárea (inclusive interna), a elasticidade do períneo e a mobilidade do útero — elementos essenciais para um trabalho de parto eficiente. -
Adote uma alimentação funcional e estratégica para a gestação
Nutricionistas com enfoque gestacional podem contribuir para o equilíbrio inflamatório, controle de peso, preparo energético para o parto e recuperação pós-parto mais eficiente. -
Mantenha acompanhamento obstétrico baseado em evidência e diálogo
Seu médico ou médica deve ser um parceiro de cuidado — alguém que respeita suas escolhas, explica com clareza, discute riscos com base científica e te escuta como pessoa, não como estatística. -
Realize exames complementares com foco na viabilidade uterina
Em casos específicos, pode-se solicitar ressonância magnética, ultrassonografia transvaginal para avaliação da cicatriz uterina, entre outros. Mas tudo deve ser feito com finalidade clara e não com punitivismo médico.
3. Construção de um ambiente de confiança
Um VBAC bem-sucedido não depende apenas do útero, mas do entorno. A rede de apoio, o ambiente físico e o vínculo com os profissionais são decisivos.
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Monte um plano de parto detalhado e respeitoso
Inclua suas preferências de movimentação, intervenções, acompanhantes, técnicas de alívio da dor e formas de comunicação. O plano de parto é uma ferramenta de diálogo — não um contrato rígido. -
Converse abertamente com seu acompanhante sobre suas expectativas
O parceiro (ou parceira) precisa estar emocionalmente presente. Essa presença afeta diretamente o nível de segurança que a mulher sente durante o parto. -
Escolha o local de parto com sabedoria, não por conveniência
Visite hospitais, casas de parto, converse com doulas locais, investigue taxas de cesárea e protocolo de VBAC. Ambientes hostis aumentam a chance de intervenções desnecessárias. -
Cuide da sua rotina de descanso e sono no terceiro trimestre
O trabalho de parto exige energia. Preparar o corpo também é respeitar seus ritmos. Dormir bem, respirar fundo, rir com leveza — tudo isso também é parte da preparação.
“Mas me disseram que o parto normal após cesárea é arriscado demais…”
Essa talvez seja a frase mais repetida por quem ouve, pela primeira vez, que poderia sim parir normalmente — mesmo depois de uma cesárea anterior.
Ela não surge à toa. Surge de anos de protocolos padronizados, de condutas hospitalares enrijecidas e de um medo coletivo que foi, por muito tempo, alimentado por falta de informação, distorção de dados ou interesses que nem sempre priorizam o bem-estar da mulher.
Muitos profissionais ainda baseiam sua conduta em estudos ultrapassados ou em crenças obsoletas, ignorando a evolução das diretrizes de organismos internacionais como a OMS ou o ACOG, que afirmam de forma clara:
➡️ O parto vaginal após cesárea é seguro para a maioria das mulheres — e deve ser uma opção considerada e apoiada.
De onde vem o medo?
O medo do parto normal após cesárea muitas vezes não é da mulher — é colocado nela.
Colocado por profissionais que, por receio jurídico, por falta de preparo ou até por conveniência logística, repetem o mantra do risco exagerado.
Mas o que os dados mostram é diferente:
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Cesáreas repetidas aumentam os riscos de complicações em partos futuros — como acretismo placentário, aderências graves, lesões em órgãos vizinhos e hemorragias pós-parto;
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Um parto normal após cesárea bem conduzido reduz essas complicações e favorece uma recuperação mais rápida, um aleitamento mais eficaz e uma vivência mais ativa da experiência de nascimento;
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Escolher o parto vaginal após cesárea não é irresponsabilidade — é, na verdade, uma escolha informada, amparada por evidências e construída com coragem.
Como encontrar profissionais que realmente apoiam o parto normal após cesárea?
Encontrar um profissional que respeite a sua história, escute sua vontade e tenha preparo técnico para acompanhar um VBAC de forma segura não deveria ser exceção — mas ainda é.
Por isso, o caminho começa com pesquisa, rede e persistência.
Aqui estão formas práticas e eficazes de buscar esse apoio:
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🔎 Pesquise por obstetras humanizados na sua região
Médicos e médicas com histórico de assistência ao VBAC geralmente divulgam essa experiência em seus canais ou são recomendados por outras gestantes. -
💬 Converse com doulas experientes
Doulas têm uma visão ampla da rede obstétrica local. Sabem quais profissionais e instituições respeitam a escolha pelo parto humanizado após cesárea. -
🌐 Participe de grupos de apoio com foco em VBAC
No Instagram, WhatsApp, Telegram ou fóruns, existem comunidades de mulheres que compartilham relatos, nomes de médicos, hospitais e experiências reais. Essa troca é ouro. -
🏥 Pesquise a taxa de cesárea das maternidades da sua região
Essas informações costumam estar disponíveis em sites como o DataSUS ou portais de transparência. Maternidades com índices muito altos de cesárea tendem a não apoiar o VBAC de forma efetiva. -
📋 Agende consultas exploratórias antes de fechar o pré-natal
Leve suas perguntas por escrito. Observe a linguagem, o tempo de escuta, a forma como o profissional trata sua história. Confiança se constrói desde o primeiro encontro.
✨ Você tem o direito de escolher quem caminha ao seu lado.
E se, mesmo com todo preparo, o parto acabar em uma nova cesárea?
Essa é uma dúvida legítima — e, para muitas mulheres, também um medo.
Mas é preciso dizer: não existe fracasso em tentar um parto.
O desfecho não define a força, nem a validade da escolha. O que transforma a experiência é a forma como ela foi vivida.
Se foi respeitosa. Se você foi ouvida. Se teve liberdade para decidir. Se teve com quem contar.
Muitas mulheres relatam que, mesmo quando o parto normal após cesárea se converte em uma nova cesárea, a experiência foi profundamente curativa — porque, dessa vez, elas estavam no centro da decisão. Não foram levadas, foram consultadas. E isso muda tudo.
VBAC: mais do que uma via de parto — uma reconexão com o próprio corpo
O parto normal após cesárea não é apenas um procedimento possível.
Para muitas mulheres, ele representa um ponto de virada:
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A chance de reconstruir a confiança em si mesmas;
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A oportunidade de viver o nascimento com presença e autonomia;
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A reparação de uma história anterior que deixou marcas;
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O reencontro com a potência de um corpo que sabe, sim, parir — e que merece ser respeitado por isso.
Você tem o direito de tentar.
Você tem o direito de ser ouvida.
Você tem o direito de escolher.
Se esse tema toca você, se ressoa com a sua história, vale a pena buscar, estudar, perguntar, insistir.
Porque, no fim, o que importa não é o tipo de parto — é que ele seja seu.
Com respeito, informação, escuta e humanidade.
💜 Se este conteúdo te tocou, compartilhe com outras mulheres. Às vezes, uma informação pode mudar uma história inteira.
E se quiser conversar, acolherei sua história com carinho.
Perguntas Frequentes sobre o Parto Normal Após Cesárea (VBAC)
❓ O que é VBAC e por que ele é considerado seguro?
VBAC é a sigla para “Vaginal Birth After Cesarean”, ou parto vaginal após cesárea. Ele é considerado seguro para a maioria das mulheres com histórico de uma única cesárea, especialmente quando a incisão uterina anterior foi transversa baixa e a gestação atual é de baixo risco. Organizações como a OMS e o ACOG apoiam essa prática com base em evidências científicas.
❓ Quais são os riscos reais do parto normal após uma cesárea?
O principal risco associado é a ruptura uterina, que ocorre em menos de 1% dos casos bem selecionados. Esse risco pode ser minimizado com uma equipe experiente, avaliação pré-natal criteriosa e escolha de um local com estrutura adequada. Cesáreas repetidas, por outro lado, aumentam significativamente os riscos em gestações futuras.
❓ Toda mulher que teve cesárea pode tentar um VBAC?
Nem todas. O VBAC é indicado para mulheres com uma cesárea anterior, incisão uterina transversa baixa, intervalo entre partos de pelo menos 18 a 24 meses, bebê em apresentação cefálica e ausência de contraindicações clínicas. Cada caso deve ser avaliado individualmente por uma equipe especializada.
❓ Como me preparar emocionalmente para um parto normal após cesárea?
O preparo emocional envolve escuta, informação e apoio. Participar de grupos de gestantes, conversar com doulas, buscar atendimento psicológico perinatal e estudar sobre parto humanizado são formas de fortalecer a autoconfiança e superar traumas anteriores.
❓ E se o VBAC acabar em nova cesárea? Vou ter fracassado?
De forma alguma. O sucesso do parto não está apenas no tipo de via, mas em como a mulher foi tratada durante o processo. Muitas mulheres relatam experiências curativas mesmo com uma nova cesárea, quando foram respeitadas, ouvidas e protagonistas da decisão.
❓ Como encontrar profissionais que realmente apoiam o VBAC?
Pesquise obstetras humanizados, converse com doulas da sua região, participe de comunidades online sobre parto respeitoso e analise a taxa de cesáreas das maternidades próximas. Marcar entrevistas com diferentes profissionais pode ajudar na escolha de uma equipe alinhada aos seus desejos.